Massa sovada – uma tradição muito açoriana

Nos Açores é seguro afirmar-se que a “boa comida” é normalmente o ponto áureo das festas populares até porque, com alguma frequência, alguns pratos ou produtos aparecem apenas em certas alturas especiais do ano.

A Massa sovada, este bolo doce, de massa saborosa e bem levedada, de cor dourada e reluzente, já foi um desses sazonais deleites comemorativos. Diz-se que já foi porque, contrariamente ao que se verificava antigamente onde a massa sovada aparecia nas mesas açorianas essencialmente pelas festas do Espírito Santo, hoje é possível encontrar este símbolo da doçaria açoriana disponível todo o ano em vários tipos de pontos de venda, desde pequenas lojas de proximidade, mercearias especializadas, até às grandes superfícies comerciais. É caso para se dizer que os açorianos seriam bem capazes de viver sem a sua querida massa sovada mas que a vida não seria mais a mesma coisa tal é um facto irrefutável.

Apesar da sua ubiquidade, continua a ser nas épocas festivas, mormente Espírito Santo e Páscoa, que a massa sovada ganha o seu gostinho muito especial.

Na Páscoa, exclusivamente, é preparada uma variação do tradicional bolo de massa sovada, chamado folar da Páscoa e que simboliza o pão servido por Jesus Cristo na última ceia com os apóstolos. A grande diferença entre a massa sovada e o folar de Páscoa é que o folar é feito com um ovo inteiro por cima para representar o renascimento de Cristo e coberto por massa em forma de cruz como representação da crucificação de Cristo.

É, assim, um bolo com um grande simbolismo religioso e, contrariamente à massa sovada, está apenas disponível da época da Páscoa.

O que é facto é que é verdadeiramente impossível falar de gastronomia açoriana sem que a massa sovada apareça no topo da lista dos produtos mais icónicos e tradicionais. Aqueles que visitam estas ilhas atlânticas normalmente não vão embora sem antes experimentar a nossa massa sovada que é tão genuína e especial como os nossos sotaques pois cada ilha, cada freguesia faz a massa sovada um pouco à sua maneira. O mesmo se aplica à forma como a massa sovada é consumida.

Até nisso esta delícia açoriana mostra a sua versatilidade. Há quem a consuma simples acompanhada por chá, café ou leite, há quem a prefira barrada com manteiga ou compota, há também quem a coloque no forno para fazer as famosas “torrinhas” de massa sovada com manteiga derretida e também há quem a acompanhe com pratos salgados como acontece na ilha Terceira onde frequentemente a massa sovada acompanha a famosa Alcatra Regional da Terceira que, diga-se de passagem, faz uma combinação de comer e chorar por mais.

Açores: O berço da massa sovada

Apesar da massa sovada ter tido a sua origem nos Açores, pode também ser encontrada em muitas outras geografias. Por exemplo, em Portugal Continental onde é popularmente chamada de pão doce. Nas comunidades portuguesas radicadas nos Estados Unidos da América e no Canadá também é muito comum encontrar a famosa massa sovada em celebrações comunitárias. Até ao pacífico a “nossa” massa sovada já chegou por via de famílias portuguesas a residir no Havaí que apresentaram a massa sovada dos Açores à ilha tropical, inspirando a criação do famoso pão doce havaiano.

Esta é assim mais uma embaixadora dos Açores. É talvez dos produtos Açorianos que mais longe já chegou e mais variantes tem. Apesar de tudo, dizem os maiores apreciadores que a massa sovada de São Miguel talvez seja a mais próxima da receita original. No entanto isso já não é assim tão relevante pois é interessante ver como um produto tão simples conseguiu incluir as especificidades culturais e gastronómicas de cada região, dentro ou fora do seu arquipélago de origem.